quarta-feira, 26 de setembro de 2012

TOM


Durante todo o tempo em que o Baruk ficou doente, me indagava como seria quando ele morresse: a Flor aceitaria outro cachorro?
Quando ele morreu, por alguns meses achei que ela estava bem, que iria se adaptar, já que ela veio prá cá com 45 dias e ele que ajudou a criá-la. Mas, com o tempo, notei que ela começou a ter medo das coisas, das pessoas, chorava muito, ficava só perto do Bacana e da Lindinha, mesmo com uma porta os separando e finalmente adoeceu. Deu piometra e depois cistite. E teve que ser castrada.

Então, resolvi procurar outro cão, um macho de preferência, pois fêmea, sem chance. Gostei de um no CCZ, chamado Gigante, mas o rapaz que trabalha lá me disse que ele era muito agressivo e não compensaria trazê-lo. Enquanto ele tratava dos cães, fiquei observando um cão amarelo, grande e o que me chamou atenção sobre ele foi seus olhos, quase brancos, de um azul claro lindíssimo.

Perguntei ao rapaz o que havia nos olhos dele e ele disse “nada, são assim mesmo.” Ele estava tremendamente amedrontado e se escondia em todos os lugares que conseguia. Fiquei sabendo que se chamava Vicente e que vinha do Bar Globo, onde foram resgatados vários cães em situação de maus tratos. Me comovi mais ainda.
No mesmo dia, liguei pra minha amiga Valéria, pedi a ela se o aceitaria como hóspede e imediatamente entrei  em contato com o CCZ e me prontifiquei a adotá-lo. Dois dias depois, Valéria foi buscá-lo e eu mais uma amiga fomos visitá-lo. Levei ração, vitamina, vermífugo, e muita esperança em conquistar seu coração. Ele nos olhava completamente assustado, diante de tanto carinho e mimo ao mesmo tempo. Imagino que pensava assim:
- Isso tá bom demais prá ser verdade. Que horas que essas duas vão me bater?

Resolvi mudar seu nome prá Tom, por causa dos olhos azuis, como o Tom Cruise e ele aos poucos foi adquirindo confiança. Quando ia vê-lo, levava sempre um pescoço de frango  e muito carinho. Levei-o ao veterinário, vacinei-o, pedi um exame de sangue, onde foi constatado processo infeccioso, provavelmente pulmonar e foi tratado. Mas, uma pergunta ficava no ar: a Flor o aceitaria?
Um dia trouxe-o em casa,  pra Flor conhecê-lo. Fiquei no terreiro com ela, e uma amiga no porão com ele, pra evitar mais ciúmes. Quando ela o localizou por uma abertura na porta de uns 20cm de largura, quase morreu de ódio, tentou entrar lá de qualquer maneira, babava, rosnava, ficou louca de raiva.
Nossa! Desanimei completamente... Só pensava: como  faria agora?
Resolvi dar florais a ela, para acalmá-la. Enquanto isso, Tom permanecia na Valéria por mais um mês, o tempo de um novo canil ficar pronto, então o trouxe. A reação dela foi a mesma. Ficou ensandecida! Então fazia assim, um preso e o outro solto, por três dias. Mas, ele bobo, não foi não. Se impôs rapidamente como macho alfa que é e mesmo através da grade, rosnava também e tentava mordê-la. Ela, então viu que poderia se dar mal, então, sossegou e passou a apenas cheirá-lo.
No dia  7 de setembro, meu marido resolveu colocá-los juntos. Colocamos focinheira nela e soltamos. Ela no início estranhou, mas depois começou a brincar com ele, mas ele com muito medo, avançava nela e rosnava. Fiz isso por três dias, durante meia hora por dia e ela sempre de focinheira, pois é bem mais forte que ele, posso arriscar em dizer que ela tem o dobro de peso dele. Depois, tirei a focinheira e agora estão em lua de mel. Brincando, um correndo atrás do outro, dormindo juntos, do jeito que eu queria. Ela está super feliz e ele nem se fala.
Graças a Deus tudo deu certo, apesar de não acreditar mesmo que fosse ser assim. Mas, acho que quando se faz algo pro bem de uma pessoa, ou no caso de um animal, o “universo” conspira a nosso favor. E eles, se Deus quiser, vão ficar muito tempo juntos, pois ele é um ano mais novo que ela, então, serão longos anos de amizade.

OBS: Os animais das fotos, exceto os da postagem, estão para serem doados no CCZ de Conselheiro Lafaiete.