quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Rock Andarilho


Almoção  em plena terça-feira com o "familião". Aniversário de madrecita D. Emília. Fomos em 2 carros para Itaverava, almoçar em um restaurante chamado Pé da Serra.
Quando chegamos, o meu radar canino detectou um cachorro deitado entre as árvores bem lá embaixo no estacionamento. Observei um pouco e entramos.
Depois do almoço, voltei lá fora com o bebê da família, Melissa, pra brincar com o “au-au”, foi aí que percebi que algo não estava bem. Muito magro, cheio de falhas no pêlo, com certeza peladeira e feridas por todo o corpo. Não arrisquei a chegar muito perto por causa da Melissa, mas fiquei com aquela imagem na cabeça. O cãozinho se coçava  o tempo todo.
Voltamos pra Lafaiete e aquela imagem continuava piscando na minha consciência. No outro dia, liguei para o restaurante e perguntei se o cachorro era de alguém da redondeza. Ninguém o conhecia. E a pessoa me deu a entender que não estava gostando nada de um cão doente deitado em frente ao restaurante.
Com medo do que eles poderiam fazer a ele, acionei a Dra. Ana Paula e voltamos lá, desta vez armadas e perigosas: sedativo, guia, focinheira e muita vontade de ajudar.
Ao chegarmos lá, ele praticamente se jogou em cima de nós pedindo ajuda. Foi um fofo! O colocamos dentro do carro, ligamos pra um veterinário conhecido Rafael e ele se prontificou a ficar com ele por uns dias.
Rafael nos disse que, assim que ele banhou o cão já com a medicação para as doenças de pele e o alimentou, ele apagou e dormiu por horas.
Depois de uma semana com o Rafael, eu o transferi para a Santa Valéria e aí ele ficou por lá 2 meses. Consegui uma castração e voilá! Estava pronto para ser adotado. Aí começa o dilema: por quem? Já pedimos pra todo mundo que conhecemos. Nosso amigo Nildes que adotou a Diva e a Gisele, antes de me cumprimentar ao telefone ele já responde: NÃO, à minha oferta de mais uma adoção.
Providenciei um cartaz bem criativo, com fotos coloridas e espalhei por vários lugares. Assim que cheguei em casa um Sr. Paulo se ofereceu para adotá-lo, contanto que eu o levasse à portaria do Pronto Socorro, onde ele trabalhava, por volta de 19hs. Nem pestanejei e rumei com o Rock (nome que demos a ele) pra lá.
Ao chegarmos lá,  Rock arrebentou a guia e impossibilitou Sr. Paulo de levá-lo a pé pra casa, que era no bairro Moinhos. Pra completar a caridade, levei os dois pra lá e deixei o Rock com ele, mas muito apreensiva. Não o conhecia, mas como ficar questionando, se todo o tratamento já tinha ficado muito além do que podíamos pagar. Então, me lembrei de um amigo que trabalha no Pronto Socorro e pedi referência . Ele deu sinal verde pra mim. Elogiou demais o Sr. Paulo e disse que ele estava em boas mãos.
No outro dia, não aguentei e liguei para o Sr. Paulo e ele disse que ele estava super bem e que no fim de semana ia levá-lo pra pescar com ele. Que ele passeava muito com os cães e que também gostava de adestrá-los.  Graças a Deus! Sensação de dever cumprido e alegria por ter tirado mais um animal das ruas.

 


 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

UMA FLOR CHAMADA SAUDADE


Quando fui buscar a Florzinha há 6 anos, para morar conosco, não imaginava que ela nos deixaria tão cedo. Osteossarcoma! Esse foi o nome do passaporte que ela usou pra passar pro outro lado. Descobrimos tarde demais ou sei lá, talvez na hora certa. Só sei que depois do diagnóstico foram somente três semanas de convivência.

Para evitar maiores sofrimentos optamos pela eutanásia, mas um dia antes de ela ser internada me despedi como se deve. Fiquei no canil junto com ela e repeti tudo que eu havia dito à ela todos esses anos. O quanto ela era importante para nós, o quanto éramos agradecidos por tudo que ela fez por nós, por trazer alegria aos nossos dias, por nos proteger, por ser tão carinhosa e por ser tão corajosa ao enfrentar todas as dores  sem rosnar, chorar ou qualquer coisa do gênero. Apenas nos olhava com aquela carinha de bebê que ela nunca perdeu. E quando questionei qual seria a hora da despedida,  Dra. Ana  me disse que aguardaríamos a hora em que ela parasse de lutar, porque essa luta também era dela. Foi aí que entendi que nem sempre os animais devem ser sacrificados. Existem as lutas que valem a pena e as que não têm jeito. Infelizmente a da minha Flor se encaixava na segunda opção.

Coincidência ou não, li recentemente um livro espírita chamado Todos os Animais são nossos Irmãos, onde o autor nos conta o que acontece com eles depois do desencarne. Pra onde vão, por quem são recebidos e a razão dos sofrimentos que eles passam na Terra. E eu acredito que onde ela estiver, sem dores principalmente, ela foi bem amparada.  E também acredito que, quando reencarnar, se não for possível voltar para o nosso convívio, ela terá um dono muito especial como ela merece. Paciente para entender todos as suas necessidades de pulos e lambidas e carinhoso para retribuir toda sua carência afetiva . Um dono com D maísculo.

Quando perdemos um animal ouvimos sempre essa frase: “por isso que eu não tenho. Nessa hora a gente sofre muito”. Mas e todos os dias de alegria? E com a Flor foram inúmeros!  O dia em que ela comeu todo o abacate que estava na mão da Divanilda de uma vez. O dia que comeu uma empada que a Di trouxe pra ela, também na maior esganação.  Quando ela viu o Tom pela primeira vez e tentou passar por um

 buraco na porta de 0,20 x 0,20 cm para trucidá-lo. Todas as vezes que eu chegava em casa e ela já estava no portão me esperando. O dia que eu coloquei-a dentro do carro no banco de trás solta e ela passou pro da frente lambendo a minha cara e eu não enxergava nada pra dirigir. Ah! São muitas estórias pra contar...

Florzinha, você foi a melhor cadela que alguém pode ter. Só sinto não poder tê-la comigo por muitos anos ainda, mas Deus sabe o que faz. Agradeço a Ele a oportunidade de conhecê-la e de ser sua protetora por tão pouco tempo e onde você estiver receba todo o meu amor.

 

quarta-feira, 30 de abril de 2014

GISELE


Manhã fria de terça feira. Saí as 6 e30 hs para encontrar o Sr. João, motorista de táxi que trata de cachorros de rua no ponto próximo à rodoviária. Havia combinado com ele de tentarmos pegar uma cadela que estava pra criar e era neste horário que ela aparecia para comer.
O que aconteceu, mas parece que a cadela teve uma intuição que iríamos pegá-la e ficou apavorada e como ficamos com medo de ela se jogar na frente dos carros, desistimos.
Liguei pra Miriam, uma doida por cachorros como eu e dei a notícia e ela disse:
- Já que levantou cedo, quer tentar pegar uma que está aqui perto de casa? Parece que está no cio.
Fui armada de guia, caixa de transporte e Assepran (um boa noite cinderela versão veterinária). Chegamos lá e ela já estava procurando comida. Me apaixonei por ela. Toda amarelinha, os olhos da cor do pelo e uma manchinha branca, apenas uma, no meio da testa. Arrumamos com a vizinha um pedaço de pão, depois de receber aquele olhar de “vocês duas não tem serviço não?” e colocamos o Assepran. Aí era aguardar o efeito.
Vinte minutos depois já mostrava sinais de adormecimento. Pegamos a “Gisele” ( em homenagem a Gisele Bunchen, linda e loira) e levamos pra clinica.
O diagnóstico veio depois. Não era cio, era TVT, câncer canino.  Autorizamos a castração e as quatro sessões semanais de quimio. Enquanto isso ficaria no Hotelzinho da Valéria até sua recuperação e a busca de um dono.
Na próxima semana fui buscá-la pra primeira aplicação. A cadela era um doce. Toda meiguinha, colocou a cabecinha no meu ombro e veio quietinha sem se mexer. Segunda aplicação: a mesma coisa. Estávamos encantadas com a meiguice dela. Já na terceira aplicação... parecia que havia sido ligada na tomada. Pulava nos bancos do carro, não satisfeita pulou pro meu colo e depois conseguiu subir na minha cabeça.  Jesus! Era outra cadela, tão saliente que nem reconhecemos como aquela Gisele, abandonada, doente e faminta.
No dia da última aplicação, fomos entregar uns livros numa escola próxima a clínica, com ela dentro do carro. O rapaz que estava nos ajudando perguntou se ela também seria doada. Dizemos que sim e se ele não se interessava:
- Eu não, mas vou perguntar pro meu patrão.
Ele veio e imediatamente ligou pro irmão que tinha um sítio e que se interessaria.
O irmão quis na mesma hora ficar com a Gisele, contanto que pudesse pegá-la no final da tarde. Minha amiga, Di se prontificou a ficar com ela até a hora combinada.
O tal irmão foi buscá-la, mas só 8 dias depois. Enquanto isso, ela fez a festa.  Corria atrás das gatas, tentava roubar comida das cadelas da casa... Pintou e bordou!
Finalmente na outra semana, Gisele foi morar definitivamente em um sítio numa cidade próxima a nossa. Dizem que está super feliz e fazendo bagunça como sempre.
 
 
Nota: esta não é uma foto da Gisele, apenas uma cadela parecida com ela. Tentei de todas as formas que o atual dono me enviasse uma foto, mas até agora nada)
 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

GENEROSIDADE

Winnie, uma boxer mestiça,  se pôs a perambular pelos arredores de sua vizinhança em Raeford, na Carolina do Norte, e começou a ficar extremamente magra. Preocupado com a possibilidade de o protetor de Winnie ter abandonado a cadela, deixando ao léu para mendigar por comida, um vizinho preparou para ela uma tigela de alimento para cães. O vizinho observou que Winnie, obviamente faminta, pegava cuidadosamente a tigela com os dentes e a carregava para o outro lado da rua em direção à sua casa. Ela deixava a comida na frente da garagem e então latia e uivava, e corria em círculos com muita agitação. Dois outros vizinhos abriram a porta da garagem e ficaram escandalizados ao ver dois goldens retriviers presos lá dentro, quase morrendo.
Durante todo um mês, eles ficaram trancados lá, numa escuridão de picha - e numa temperatura de verão acima de 33ºC. O chão estava coberto de fezes, urina e pilhas de pelos que os cães haviam perdido por causa da desnutrição. Desesperados por comida e água, os cães tinham puxado latas de tintas das prateleiras, mastigando-as para abrí-las. Dentes quebrados estavam espalhados por todo lado. Um dos vizinhos disse:  "Os cães pareciam vítimas de um campo de concentração."
Aparentemente, Winnie ficou sabendo da miséria e do desespero dos goldens e provavelmente tentou descobrir um modo de ajuda-los. Kim Shelton, uma investigadora oficial sobre crueldade contra animais da Humane Society, observou que Winnie, embora estivesse faminta, "sacrificou a comida que estava recebendo para alimentar os outros cães". Os canídeos são conhecidos por vigiarem e protegerem, instintivamente, a sua matilha, e Winnie pode muito bem ter agido com base num sentido de dever. Ela demonstrou uma admirável genetosidade, o que faz dela, nas palavras de Shelton, "uma verdadeira heroína".
Trecho do livro A Bondade nos Animais, Kristin von Kreisler, Editora Cultrix
 
Imagem meramente ilustrativa

segunda-feira, 17 de março de 2014

ASTÚCIA

Emily, uma enorme porém gentil vaca holstein preta e branca, pesando 636 quilos, também demonstrou uma incrível astúcia em circunstâncias insólitas. Ela estava parada numa estação de embarque em Sherborn, Massachusetts, e era a próxima na fila para o pavimento do matadouro. Quando os trabalhadores fizeram uma pausa de meia hora para o almoço, a suspensão temporária de sua sentença, deu-lhe tempo suficiente para descobrir o que iria lhe acontecer. Ela reuniu toda a sua força de raciocínio, e saltou sobre um portão de estacada de quase 2,5 metros de altura e fugiu para o bosque.
Os homens do matadouro a procuraram durante dias. Quando eles se aproximavam, ela provavelmente os enxergava de um lugar bem escondido, e mesmo à distância ela podia sentir o cheiro de sangue em seus aventais brancos. Emily parecia saber exatamente quem eram aquelas pessoas e porque elas a queriam. Por isso, ela continuou a despistá-las, e durante as semanas seguintes uma nevasca se seguiu a outra no inverno mais nevado que a Nova Inglaterra havia visto em uma década. Embora Emily estivesse faminta, ela se recusava a se aproximar do feno que os homens do matadouro deixavam para ela como isca.
Um mês depois da fuga de Emily, uma mulher chamada Meg Randa ouviu falar que Emily fora avistada por muitos moradores de Sherborn enquanto ela vagava pelos arredores da cidade com pingentes de gelo pendurados nos bigodes. Randa, uma vegetariana com convicções profundas sobre os direitos dos animais, dá aulas de educação especial e dirige o Veganpeace, um santuário animal. Ela rapidamente providenciou a compra de Emily junto ao matadouro e em seguida a procurou nos bosques por três dias, até finalmente descobrir o paradeiro da vaca.
Numa área protegida por sempre-verdes, Emily tinha limpado a neve para encontrar um lugar seco e quente onde ela fez uma cama. Randa viu a vaca seguindo uma manada de cervos, que presumivelmente lhe mostraram como comer folhas e bolotas de carvalho e obter líquido a partir da neve. "Foi uma maneira inteligente de sobrevivência para uma vaca leiteira que havia sido alimentada e suprida de água durante toda a sua vida", diz Randa. Esse foi um comportamento surpreendentemente astucioso para uma vaca que, antes disso, nunca havia lutado pela própria vida em nevascas.

Trecho do livro A Bondade nos Animais, Kristin von Kreisler, Editora Cultrix, 2005

 
Imagem Meramente Ilustrativa

sábado, 1 de março de 2014

COOPERAÇÃO

Khayhim, um falcão-águia africano, foi roubado de seu ninho quando ainda era filhote, e em seguida foi passando, durante anos, para pessoas que o maltratavam. Ele respondeu a esse tratamento de maneira extremamente hostil; mesmo depois que foi levado para o centro de reabilitação de Lorna Stanton, ele permaneceu extremamente perigoso e agressivo. Stanton tentou ajudar Khayhim a se recuperar psicologicamente levando-o para voar livre,  numa reserva natural vizinha.
Num passeio que deu num fim de tarde, uma de suas asas ficou presa em espinhos quando ele, ao descer planando, pousou numa árvore cheia de espinhos. Quanto mais desesperadamente ele se debatia para se liberar, mais ele se emaranhava, e em pouco tempo as asas ficaram enganchadas. Stanton dirigiu seu micro-ônibus até o local, estacionando-o sob a árvore, subiu no seu teto e tentou libertá-lo, mas não conseguiu alcançá-lo. Ela sabia que quando anoitecesse, outros pássaros de rapina apareceriam e provavelmente, transformariam Khayhim em seu jantar. Por isso, Stanton tinha que se apressar e achar um meio de tirá-lo de lá.
Depois de tentar, sem sucesso, subir na árvore, Stanton finalmente amarrou um cabo de aço no bagageiro de seu veículo e, com um guincho motorizado, puxou em direção ao solo os galhos do topo da árvore. Khayhim que era normalmente tão hostil e agressivo, permaneceu absolutamente imóvel enquanto a árvore se curvava até o chão. Ele não ofereceu resistência enquanto Stanton libertava suas asas dos espinhos. "Ele nem uma só vez me bicou ou me arranhou, mesmo quando seu bico ou as suas garras ficaram livres", diz Stanton, "Era quase como se ele estivesse pensando: Se eu não ficar do lado dela e cooperar, ela não poderá me tirar daqui". Certamente, a recompensa de Khayhim foi sua própria liberdade.

Trecho do livro A Bondade nos Animais, Krisitn von Kreisler, editora Cultrix, 2005
Imagem Meramente Ilustrativa

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

FIRMEZA

Justin, um spaniel King Charles de olhos esbugalhados era como um minúsculo cachorro de brinquedo, do tipo que tiraria régias sonecas num travesseiro de seda de uma corte inglesa do século 17. Assim como aqueles cães , Justin foi mimado num grau supremo. Agora, no outono de sua vida, teve um sopro no coração e ficou surdo e frágil.
Nada o havia preparado para a odisséia que começaria quando hóspedes de sua protetora, Susan Warmflash, deixaram aberta a porta da frente da casa. Justin se aventurou de mansinho pelo lado de fora da casa e rapidamente se perdeu enquanto andava sem rumo pela vizinhança, em Closter, Nova Jersey. Enquanto dava voltas para encontrar o caminho de casa, ficava cada vez mais perdido.
Quando Warmflash percebeu que ele havia desaparecido, ela procurou freneticamente por ele. Ele, sem dúvida, também procurou por ela, mas não era capaz de ouvir o seu chamado; e deve ter ficado ainda mais desorientado pelos automóveis que passavam zumbindo rente a ele, e que ele não conseguia escutar. Warmflash afixou cartazes anunciando o cachorro perdido e uma mulher telefonou pra dizer que ela acabara de ver Justin atravessando um campo perto de sua casa sob uma chuva torrencial. "Ele parecia realmente cansado", observou a mulher. Warmflash saiu em disparada para encontrá-lo, mas o cão tinha ido embora.
Justin ficou perdido durante todo aquele verão. E durante todo o outono. E durante a maior parte do inverno. Então, finalmente, numa gelada noite de fevereiro - nove meses depois de seu desaparecimento - Justin saltou na frente de um carro que viajava a 23 quilômetros da casa dele. O cão estava tão sujo que o motorista mal conseguia vê-lo no escuro, mas o homem saltou pra fora do carro, apanhou Justin e descobriu seu paradeiro chegando a Warmflash graças a etiqueta de vacinação contra a raiva.
Justin suportou aguaceiros, calor, gelo e neve. Como um mimado cão de família que se viu, subitamente, sozinho e desprovido dos recursos e do amor aos quais ele estava acostumado, ele defrontou o desconhecido a cada novo dia e foi capaz de lidar com desafios supremamente difíceis. Ele que estava acostumado a se aconchegar em ociosas sonecas sobre o sofá, teve então de esmolar por abrigo. Acostumado a refeições substanciosas servidas em sua tigela, ele agora teve de rapinar alimentos. Acostumado a carinhos e afetos, ele agora teve de enfrentar a solidão e o desalento. Explica Warmflsh: "Ele teve de mudar sua personalidade. Teve de ficar feroz, forte e determinado. Ele era apenas uma coisa minúscula contra o mundo.
Seis meses depois, Warmflash ainda tem que despertar Justin muito gentilmente de suas sonecas. Ela diz: "se eu o toco de maneira muito brusca, ele se assusta terrívelmente. Bem no fundo dele, todo o seu trauma ainda está la. Sem dúvida, ele passou por tempos realmente duros". Mas, depois de acordar, Justin parece ter deixado esses tempos para trás. "Ele precisou de forças para aceitar o que aconteceu", acrescenta Warmflash. " Ele foi muito mais forte do que pensávamos".
(Trecho do livro A Bondade nos Animais, de Kristin Von Kreisler, editora Cultrix, 2005)
Imagem Meramente Ilustrativa

domingo, 2 de fevereiro de 2014

LEALDADE

A lealdade deve com certeza responder pela extrema aflição que os animais sentem. Na ausência de alguém que eles amam, eles podem ficar tão desolados que quase parecem querer morrer. Um desses animais era Damani, elefanta de setenta e dois anos de idade, que viveu sozinha no zoológico Prince of Wales, em Lucknow, na Índia, antes que Champakali, uma elefanta mais jovem, fosse trazida para compartilhar do recinto que abrigava. Quase imediatamente, ambas se tornaram inseparáveis.
Quando Champakali deu à luz um filhote e morreu, Damani foi vista vertendo por ela lágrimas reais. Ela mal mordiscava a cana-de-açúcar, o capim e as bananas com os quais o pessoal do zôo tentou seduzi-la. Logo ela parou totalmente de comer e, não obstante o calor de quase 47ºC, também parou de beber água.
Embora a equipe do zoológico a refrescasse com borrifos de água e ventiladores, e os veterinários ministrassem a ela mais de 95 litros de glicose, substâncias salinas e vitaminas, nenhuma dessas medidas heróicas funcionou. Damani rolou de lado e ficou deitada, fitando o espaço com olhos tristes e úmidos, e então morreu. A velha e leal elefanta pode ter sido a tal ponto arrebatada pela aflição que a morte da amiga lhe causou, que estava determinada a pôr fim à sua própria vida.
Os gatos, embora se costume supor que eles sejam independentes e indiferentes, também podem ser leais e vigilantes. Um deles é Bumper, um gato preto e branco de Portola Valley, na Califórnia. (Ele ganhou esse nome porque, com frequência, batia com força a sua cabeça contra a perna da sua protetora, Virginia Burrill, para pedir agrados.) Quando Burrill ficou doente, Bumper saltou na sua cama e permaneceu ali, fazendo companhia constante a ela durante os quatro anos seguintes, até que ela morreu. Então, a filha de Burrill tirou a cama e o tapete para fora do quarto. No entanto, cada vez que ela voltava para casa, encontrava  Bumper deitado no piso, feito de madeira de lei, no local exato onde a sua mãe ficava deitada com ele na cama, e onde ele permaneceu fielmente ao lado dela durante tantos anos.
(Texto extraído do livro A Bondade nos Animais, de Kristin von Kreisler, Editora Cultrix, 2005)
Fotos meramente ilustrativas

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

CORAGEM

Um labrador cor de chocolate chamado Ole, era conhecido por ser tão tímido e medroso que corria à procura de abrigo como um cão de pradaria toda vez que falcões o sobrevoavam. Certa vez, quando perseguido por um alce, ele correu e escondeu a cabeça entre as pernas de seu protetor Stan Anderson. Com orelhas que se pareciam com as abas de um chapéu de caçador e a pele lustrosa como a de uma foca, Ole parecia totalmente desprovido de coragem - até um longo passeio que ele e Anderson fizeram perto de Rex Ford em Montana.
Enquanto o homem e o cão estavam caminhando ao longo de uma estrada usada para o transporte de toras e coberta de grama, um filhote de urso preto saiu do bosque caminhando com seus passos pesados. O estômago de Anderson ficou espremido num nó de apreensão. Certo de que a mãe do filhote apareceria sem dúvida alguma a qualquer instante, Anderson sussurrou para Ole; "Vamos dar o fora daqui", mas antes que eles pudessem dar meia-volta e sair correndo, a mamãe urso emergiu de uma vala a 30 metros de distãncia deles.
Erguendo-se em suas patas traseiras até mostrar toda a sua ameaçadora altura de 1,80 metro, a ursa se precipitou sobre Anderson e varreu-lhe o rosto com uma patada. Escorreu sangue pela bochecha e ele estava certo que havia perdido um olho. Ele também tinha certeza de que logo estaria morto. Ole, sempre tão medroso rosnou, latiu e mordeu a ursa. Ele afundou os dentes numa das patas traseiras do animal com tamanha ferocidade que ela parou por um instante, talvez se perguntando se matar Anderson com aquele cão furioso por perto não seria problemático demais para valer a pena. Então, ela virou de costas e galopou de volta até o seu filhote.
Quase entrando em estado de choque, Anderson, cambaleando e sangrando, se dirigiu para o carro, que estava estacionado a mais de 1,5 quilômetro de distância, e não sabia se iria conseguir chegar lá e em seguida dirigir mais 8 quilômetros até sua casa. As coisas ficaram ainda piores quando ele ouviu um barulho de arranhar a terra atrás dele, e então sentiu uma respiração na parte posterior do seu pescoço. Um lampejo de pavor atravessou sua mente, e ele enrijeceu.
A mamãe urso bateu sua cabeça contra Anderson e mordeu-lhe o ombro; em seguida, abocanhou-lhe o cotovelo com os dentes, e com um som terrível de trituração, mostrava-se impaciente para abocanhar-lhe os ossos. Ole enlouqueceu. Latindo, uivando e mordendo, ele se atirou sobre a ursa e mordeu todas as partes do corpo dela que conseguiu alcançar.
Anderson, tão apavorado por Ole quanto por si mesmo, empurrou a ursa com o braço livre numa última e desesperada tentativa de se livrar dela. Perdendo o equilíbrio, ela momentaneamente afrouxou as tenazes de suas mandíbulas e Ole afundou os dentes em seu traseiro. Ela rodopiou  e novamente saiu em direção ao filhote com seus movimentos pesados enquanto Ole continuava latindo. Durante toda a sua vida, Ole tinha dentro de si um feroz gladiador escondido, percebeu Anderson, e não uma trêmula borboleta.
Quando finalmente alcançaram o carro, Ole deixou de lado sua bravura e ferocidade e voltou ao seu eu usual, delicado e sensível. Ele colou o corpo contra o de Anderson e lhe deu apoio, e então lambeu-lhe o rosto para impedi-lo de perder a consciência no caminho de volta para casa. Anderson, cujas feridas precisaram levar centenas de pontos, diz: "Ole estava determinado a me salvar. Ele sabia o que estava fazendo." Atirado numa situação de crise, ele teve de se contrapor à sua natureza, básica, medrosa, reunindo toda a coragem necessária para fazer o que precisava ser feito.
(trecho do livro A Bondade dos Animais, Kristin Von Kreisler, Editora Cultrix, 2005)
Imagem meramente ilustrativa