quarta-feira, 30 de abril de 2014

GISELE


Manhã fria de terça feira. Saí as 6 e30 hs para encontrar o Sr. João, motorista de táxi que trata de cachorros de rua no ponto próximo à rodoviária. Havia combinado com ele de tentarmos pegar uma cadela que estava pra criar e era neste horário que ela aparecia para comer.
O que aconteceu, mas parece que a cadela teve uma intuição que iríamos pegá-la e ficou apavorada e como ficamos com medo de ela se jogar na frente dos carros, desistimos.
Liguei pra Miriam, uma doida por cachorros como eu e dei a notícia e ela disse:
- Já que levantou cedo, quer tentar pegar uma que está aqui perto de casa? Parece que está no cio.
Fui armada de guia, caixa de transporte e Assepran (um boa noite cinderela versão veterinária). Chegamos lá e ela já estava procurando comida. Me apaixonei por ela. Toda amarelinha, os olhos da cor do pelo e uma manchinha branca, apenas uma, no meio da testa. Arrumamos com a vizinha um pedaço de pão, depois de receber aquele olhar de “vocês duas não tem serviço não?” e colocamos o Assepran. Aí era aguardar o efeito.
Vinte minutos depois já mostrava sinais de adormecimento. Pegamos a “Gisele” ( em homenagem a Gisele Bunchen, linda e loira) e levamos pra clinica.
O diagnóstico veio depois. Não era cio, era TVT, câncer canino.  Autorizamos a castração e as quatro sessões semanais de quimio. Enquanto isso ficaria no Hotelzinho da Valéria até sua recuperação e a busca de um dono.
Na próxima semana fui buscá-la pra primeira aplicação. A cadela era um doce. Toda meiguinha, colocou a cabecinha no meu ombro e veio quietinha sem se mexer. Segunda aplicação: a mesma coisa. Estávamos encantadas com a meiguice dela. Já na terceira aplicação... parecia que havia sido ligada na tomada. Pulava nos bancos do carro, não satisfeita pulou pro meu colo e depois conseguiu subir na minha cabeça.  Jesus! Era outra cadela, tão saliente que nem reconhecemos como aquela Gisele, abandonada, doente e faminta.
No dia da última aplicação, fomos entregar uns livros numa escola próxima a clínica, com ela dentro do carro. O rapaz que estava nos ajudando perguntou se ela também seria doada. Dizemos que sim e se ele não se interessava:
- Eu não, mas vou perguntar pro meu patrão.
Ele veio e imediatamente ligou pro irmão que tinha um sítio e que se interessaria.
O irmão quis na mesma hora ficar com a Gisele, contanto que pudesse pegá-la no final da tarde. Minha amiga, Di se prontificou a ficar com ela até a hora combinada.
O tal irmão foi buscá-la, mas só 8 dias depois. Enquanto isso, ela fez a festa.  Corria atrás das gatas, tentava roubar comida das cadelas da casa... Pintou e bordou!
Finalmente na outra semana, Gisele foi morar definitivamente em um sítio numa cidade próxima a nossa. Dizem que está super feliz e fazendo bagunça como sempre.
 
 
Nota: esta não é uma foto da Gisele, apenas uma cadela parecida com ela. Tentei de todas as formas que o atual dono me enviasse uma foto, mas até agora nada)
 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

GENEROSIDADE

Winnie, uma boxer mestiça,  se pôs a perambular pelos arredores de sua vizinhança em Raeford, na Carolina do Norte, e começou a ficar extremamente magra. Preocupado com a possibilidade de o protetor de Winnie ter abandonado a cadela, deixando ao léu para mendigar por comida, um vizinho preparou para ela uma tigela de alimento para cães. O vizinho observou que Winnie, obviamente faminta, pegava cuidadosamente a tigela com os dentes e a carregava para o outro lado da rua em direção à sua casa. Ela deixava a comida na frente da garagem e então latia e uivava, e corria em círculos com muita agitação. Dois outros vizinhos abriram a porta da garagem e ficaram escandalizados ao ver dois goldens retriviers presos lá dentro, quase morrendo.
Durante todo um mês, eles ficaram trancados lá, numa escuridão de picha - e numa temperatura de verão acima de 33ºC. O chão estava coberto de fezes, urina e pilhas de pelos que os cães haviam perdido por causa da desnutrição. Desesperados por comida e água, os cães tinham puxado latas de tintas das prateleiras, mastigando-as para abrí-las. Dentes quebrados estavam espalhados por todo lado. Um dos vizinhos disse:  "Os cães pareciam vítimas de um campo de concentração."
Aparentemente, Winnie ficou sabendo da miséria e do desespero dos goldens e provavelmente tentou descobrir um modo de ajuda-los. Kim Shelton, uma investigadora oficial sobre crueldade contra animais da Humane Society, observou que Winnie, embora estivesse faminta, "sacrificou a comida que estava recebendo para alimentar os outros cães". Os canídeos são conhecidos por vigiarem e protegerem, instintivamente, a sua matilha, e Winnie pode muito bem ter agido com base num sentido de dever. Ela demonstrou uma admirável genetosidade, o que faz dela, nas palavras de Shelton, "uma verdadeira heroína".
Trecho do livro A Bondade nos Animais, Kristin von Kreisler, Editora Cultrix
 
Imagem meramente ilustrativa