CHIARA
Em uma manhã fria de domingo, minha irmã, Kátia, me ligou
contando que tinha um cachorrinho abandonado em uma escada de construção perto
da casa da minha mãe.
- Cláudia, pega ele pra você! É lindo!
- Tá doida? Aqui em casa a lotação tá esgotada. Foi a minha resposta.
A curiosidade venceu a preguiça e o frio e desci pra ver o
cachorrinho.
Como sempre, sujo, magro, mal tratado, pêlo todo embolado,
cheio de pulgas e terrívelmente assustado. Fiquei penalizada e pensando no que
fazer. Imediatamente me veio à mente a minha amiga e vizinha Selma, que há
tempos queria um cachorro e nunca dava certo as tentativas. Liguei:
- Selma, vem aqui pra você ver uma coisa.
- O quê? Aonde?
- Aqui, do lado da farmácia.
Ao chegar lá, Selma, como era de se esperar, se encantou com
a coisinha. Seu marido, Adilson, coincidentemente ou não, passou do outro lado
da rua e nos ajudou com uma caixa pra levá-lo pra casa. Demos água, ração (eu
já tinha descido com um pouco) e ele tremia como vara verde.
Disse:
- Selma, vou levantá-lo e você vê se é macho ou fêmea.
- Como?
- Ora, qual é a diferença entre meninos e meninas?
Caímos na gargalhada e descobrimos que o serzinho assustado era uma menininha.
Seu nome seria Chiara.
A partir daí, Chiara ganhou, roupinhas, casinha, vasilhas,
tudo cor-de-rosa. Os donos, eu não tive dúvida nenhuma quanto a isso, fizeram
dela uma princesinha. Tudo que tinha direito: vacina, vermífugo,
vitaminas, e por fim castração. Levam
pra passear, pra viajar... Enfim, faz parte da família agora.
Houve inclusive uma suspeita de que ela estivesse prenha. Seria
necessário um ultra-som pra saber. Na preparação, Luftal de 3 em 3 hs na
madrugada. E dá-lhe corre- corre atrás de Chiara para tomar o remédio, com
Adilson e Selma cochilando em pé. Alarme
falso!
Como sempre, um animalzinho na casa muda os hábitos e a
rotina de todos, mas de uma maneira maravilhosa. Chego a dizer que ele nos faz ficar mais
humanos. Deixamos de dar importância a várias bobagens, que antes tão
importantes, deixam de ser, pra serem superados pelo amor incondicional que
eles nos proporcionam.
Graças a Deus, menos um animalzinho abandonado na rua,
passando fome, sede, violência, frio, medo. Que mais tenham a mesma sorte que
Chiara teve e consigam também um lar acolhedor como desses meus dois amigos.