Imaginem a cena: em um sítio, bem afastado da casa principal, um cão amarrado em uma corrente e só se alimentando uma vez por semana. Pois foi assim que conhecemos o Cacique. Um vira-lata com pinta de pastor alemão que ficava lá, mau tratado e solitário o dia todo.
O sítio em questão é do meu sogro, Sr. Waldemar. Nem o culpo por isso. Ele gosta deles, mas do jeito dele. Alimenta-os, cuida quando estão doentes e só. Na sua opinião, eles são bichos e devemos tratá-los como tal, a gente que os mima demais. Eu então, nem se fala. Ele ri do jeito que eu trato os meus. Essa é a mentalidade das pessoas mais velhas. Sei que nem todas pensam assim, mas a maioria pensa. Na casa da minha mãe, por exemplo, um cachorro, Kojak, morreu de tanto carrapato e ficava também preso no fundo da horta, amarrado em uma corrente. Antigamente se achava que, para o cão ficar "bravo", teria que ficar dessa forma. Sabemos de muitas histórias parecidas com essa. Mas, aos poucos, essa mentalidade vai mudar.
Então, voltando ao Cacique, quando o Wander começou a construir sua casa precisou de um cão pra tomar conta da obra e o Sr. Waldemar indicou o Cacique. Chegou lá, coitado, daquele jeito, né? Cheio de pulgas, carrapatos, magro e tristonho demais. Nunca havia ouvido falar em veterinário e que houvesse solução para aquela coceira infernal que ele sofria com seus parasitas.
Wander cuidou dele, levou-o a clínica e com o tempo Cacique virou outro, mas infelizmente, meses depois, apareceu com um tumor no intestino reto e por isso teve que ser operado e castrado. Mas, com um temperamento dócil e muito amigo passou pela cirurgia e o pós operatório com tranqüilidade.
Seu problema eram as fugidas que ele dava, quando percebia o portão aberto. Sumia pro meio do mato e só aparecia no dia seguinte, às vezes bem machucado, devido a brigas com outros cães. Mas, ao amanhecer, Wander o encontrava no portão, depois de uma noite na gandaia. Afinal, ninguém é de ferro!
Quando o Satoi chegou, (história postada em março de 2011), ficamos preocupados, pois dois machos não se bicam, Cacique, mais uma vez surpreendeu. Aceitou o filhote com paciência e depois aceitou também as duas levadinhas, Samira e Juma, que atualmente fazem companhia a ele, como um verdadeiro vovozão. Mas, isso não o impede de ser um excelente cão de guarda, dando sinal a qualquer movimento estranho.
Hoje, Cacique, com quase quinze anos, que a gente nem nota, tem seus problemas de idade. Alguma perda de dente, uma artrite que o incomoda bastante e o impede de correr como antigamente, quando fugia para namorar ao por do sol, com alguma cadelinha de rua bem do jeito que ele sempre sonhou, livre, bem longe de uma corrente, no fundo de um quintal.