É verdade. Tudo começou com eles: Casper e Kat, um casalzinho de rotweillers que compramos em BH, quando a nossa casa que estava em construção, havia sido roubada. Estes nomes foram escolhidos por causa do par romântico do desenho "Gasparzinho". Fomos em BH, eu, Wander, Naninho, meu sobrinho e James, meu concunhado. O primeiro a ser comprado foi o Casper, ele estava com 45 dias. Quando chegamos, um rapaz com a cara toda amassada, e com uma camisa do cruzeiro combinando com a cara e que não combinava com a camisa do atlético que o Naninho usava, nos mostrou a ninhada. Logo, Wander se encantou com os cães, principalmente com o maior e mais gordinho, mas a filha do sujeito foi logo falando:
- Este, de chiclete na perna é meu!
Corta para a perna traseira do filhote. E não é que havia um chiclete colado na perna dele! Escolhemos outro. Dali fomos direto pra outra casa, onde compramos a Kat. A mãe já dava mostra de poucos amigos. A vimos através de uma grade e pudemos perceber de lá que ela tinha uma dentição perfeita... Voltamos alegres com o nosso casalzinho.
Cresceram felizes e completamente apaixonados. Onde um estava, o outro também. Nossa intenção, além de proteger a casa era vender os filhotes. Mas o affair era tanto que tivemos que separá-los. Cada cio, era uma cria e Kat não se mostrou uma cadela muito ligada aos deveres maternais. Não amamentava os filhotes, pisoteava-os, e quando dava prá correr em volta do rabo, que nem tinha, jogava os filhotes pra todos os lados. De uma ninhada de 9 filhotes, sobrevivia um, no máximo. Eu tinha que todas as tardes ir na construção e segurá-la para os filhotes amamentarem. Foi um suplicio!
Mas, primeiro vou falar do Casper. Era um exemplo de rotweiller. Aceitou o adestramento, obediente, muito inteligente e bastante safadinho. Um dia, ao tirar o carro da garagem, passou em frente à casa, uma cadela no cio e o Don Juan da rua não pensou duas vezes pra sair correndo atrás dela. Entrou na casa de sua dona e levou bastante vassourada no focinho até que o Wander chegasse para pegá-lo. Chorou o dia inteiro de frustração...
A vizinhança toda tinha medo dele, pois o seu latido e o seu tamanho intimidavam qualquer um.
Nessa ocasião, minha escola possuía uma kombi escolar e eu havia combinado com o pintor para pintar um letreiro nela. Mas ele, não era muito pontual com os horários e cada dia chegava em uma hora, por isso nunca sabia quando ele estava ou não na casa. Uma tarde, quando fui ver a Kat e seus filhotes, ao abrir o canil, o Casper subiu igual a um louco para a garagem, mas não "coloquei maldade" nisso. Fiquei ainda uns 15 minutos com ela, quando decidi ir ver o que era. O rapaz estava colado na parede, branco feito um papel e o Casper colado nele, não deixando ele nem se mexer.
Seu relato: "eu estava fumando meu cigarro, quando vi uma sombra preta passar por baixo da janela e ao me virar, dei de cara com ele. Me apavorei, mas não corri. Fui caminhando devagar até a kombi: trancada. Me direcionei para as duas portas da casa: trancadas. Então vi o portão da garagem aberto e caminhei na direção dele. Mas o pavor era tanto que ao invés de eu sair e trancá-lo, tranquei-o comigo lá dentro. E o cachorro me acompanhando. Pensei: vou passar a noite com esse pretão. Quando vi a Cláudia subindo com o enforcador, criei alma nova."
Resultado: o rapaz sonhou uma semana com o Casper. E o adestrador dele o parabenizou:
- Ele fez tudo certo. Não deixou o cara mexer em nada e também não o atacou. Exemplo de cão de guarda!
Quando eu chegava em casa de carro, não precisava prendê-lo, ele não saía no portão, de jeito nenhum. Ficava comigo me esperando prá ir prá faculdade. Era tão carinhoso! Não mexia em nada. Nunca estragou uma planta. Nunca! Era o cão que todo mundo pediu a Deus.
Quando o Baruk chegou, Casper já tinha seus 9 anos. Já era um velhinho e o Baruk novo e muito mais forte, não se adaptaram e um dia brigaram por causa de uma vasilha de ração. Casper ficou bastante machucado e então os separamos.
Casper viveu 13 anos. No dia em que ele morreu, cheguei em casa e ele subiu comigo, como sempre. Fechei a porta e fui tomar banho. Quando voltei, reparei que ele não mexeu do lugar. Liguei para o Wander e para a veterinária. Ela indicou um remédio. Ele havia travado, já tinha problema de artrite nas patas traseiras. O colocamos em um cobertor e ele passou a noite toda sem se mexer. Pela manhã, a clínica o buscou e nunca mais o vi. Diz a veterinária que ele morreu no caminho. Nunca me esqueço do olhar dele prá mim. Eu me despedi dele e o agradeci por tudo que ele fez por nós, por nos proteger de uma maneira tão especial. Me emociono até hoje... Algumas pessoas dizem que não querem ter animais, por causa desses momentos. São terríveis mesmo. Mas foram só dois dias de choro. E as centenas de dias de alegria, não contam?
Um dia, ao chegar em casa, percebi por baixo do portão as sombras de umas patinhas. Pensei que era a Flor, mas ela estava lá no fundo da garagem, deitada. Quando os animais morrem, os espiritos ligados à natureza permitem que eles fiquem por um tempo na casa, até serem resgatados. E acredito que era isso. Ele ainda estava ali, se despedindo aos pouquinhos de nós...